“Liliana, em que te inspiraste para escreveres o GABRIEL 120419?” Esta é a pergunta que mais desperta curiosidade aos leitores e eu compreendo o porquê.
A verdade, é que embora esta história seja ficção, ela tem nas suas linhas muita veracidade.
Então porque escolhi esse tema para o meu primeiro livro? Porquê um tema tão duro, sensível e pouco explorado na literatura portuguesa?
Bem, pelo menos até ao ano de 2019. Tudo começou na minha adolescência quando li O Diário de Anne Frank. Fiquei muito sensibilizada com o relato e senti-a como uma amiga, alguém próximo a mim, sem de facto o ser. Durante os poucos dias que li o diário, sentimentos despertos por essa leitura trouxeram-me maior consciencialização sobre a vida. E até sobre a literatura. Agora que penso nisso, acredito que tenha sido mais após essa livro que a “sede” pela leitura de não ficção fez morada.
Este livro nasceu de duas situações: a primeira situação foi algo muito íntimo e realmente muito duro para mim, mas vou deixar essa partilha para a próxima publicação; a segunda situação foi querer, de alguma maneira, homenagear/dar voz aos que pereceram, num dos acontecimentos mais desumanos da história, o Holocausto. Assim, como não deixar cair no esquecimento os relatos daqueles que sobreviveram e partilharam com muita dor as suas vivências conosco.
Esta história é um conto de apenas sessenta e seis páginas, mas tem a voz de cerca de vinte e seis milhões de vidas. A estimativa aqui não é apenas do Holocausto, mas sim de todos aqueles que foram afetados de algum modo pelo regime nazista.
Uma outra pergunta que me fazem é o porquê de ter escrito um livro pequeno sobre o tema.
O enredo fluiu muito naturalmente numa tarde, muito em parte devido ao meu turbilhão de emoções a nível pessoal e foi escrito para um concurso da FNAC. Esse concurso tinha diversas regras e uma delas era não ultrapassar x palavras. Obviamente que tive de cortar história e isso foi algo me me custou muito, como acredito que custe a todos os autores. Mas naquele momento eu não era uma autora, era apenas alguém que queria ter o livro publicado para eternizar o que sentia necessidade de eternizar. Não tanto para os outros, mas para mim.
Publicar um livro era um sonho, mas nunca tinha pensado nisso como algo concretizável. Quando o concurso terminou, e não fui apurada entre os cinco mil concorrentes, as poucas pessoas que tinham lido as minhas palavras insistiram para que o publicasse e não o deixasse esquecido numa gaveta. Pois mais importante que o livro em si, é a mensagem que o mesmo passa. E assim o fiz. Num mundo editorial que me era totalmente desconhecido, lá publiquei numa editora e o mesmo deixou de ser apenas meu e passou a ser do mundo. Bem, pelo menos de quem o lê. Poderia ter acrescentado mais à história quando o publiquei? Podia, mas tal não me passou pela cabeça. Quando o li e reli uma boa dezena de vezes, todas as palavras faziam sentido, a estrutura estava bem feita e a essência dele estava ali, naquelas sessenta e seis páginas manchadas de lágrimas e repletas de muito amor. Do mais puro amor.
Há uma diferença em escrever um livro com o intuito de o tornar comercial ou o escrever porque o sentimos e queremos apenas escrever. Na próxima publicação vão perceber melhor o que quero dizer. 🙂
Eu tenho cerca de trinta livros sobre o Holocausto lidos, já vi muitos filmes e documentários sobre o mesmo. Já vi e ouvi vários relatos, testemunhos de sobreviventes e já tive o privilégio de falar com um. Após publicar o livro e o mesmo começar a ser lido pelos leitores é que comecei a ponderar desenvolver mais a história, não por não achar que o objetivo da mesma não estivesse ali realizado, mas porque poderia contar mais! Afinal eu tinha adquirido conhecimento para o conseguir fazer. Mas nessa altura houve algo que me travou por mais que os leitores me pedissem uma continuação: eu não me achava digna de escrever tão pormenorizado sobre algo tão importante, quando na verdade eu não vivenciei o que aquelas pessoas vivenciaram. Eu sei que sou uma autora de ficção e sei que outros autores o fazem. Mas não é algo que se leve de ânimo leve. Muito facilmente se pegam em histórias sofridas, mesmo que de ficção e se romantizam as mesmas. Eu tive extremo cuidado para não o fazer. E acima de tudo, respeito.
Vais reeditar o GABRIEL 120419?
Só comecei a ponderar dar continuidade à história quando falei com o sobrevivente, nos seus noventa anos e senti que me era dada essa permissão. Principalmente por se tratar de uma história de ficção. É muito difícil pegar numa história com tão tanta carga emocional, seja pelo contexto histórico, como pela a parte que me diz respeito e alterá-la sem perder a essência. Quiçá um dia.
Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto ocorre anualmente a 27 de janeiro. Esta é uma data dedicada à homenagem dos milhões de pessoas que foram torturados e mortos nos campos de concentração comandados pela Alemanha Nazista, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), sob o comando de Adolf Hitler.
Para terminar, deixo a reflexão abaixo para quem ainda não leu e também para quem já me leu: GABRIEL 120419 é para ser lido com o coração e sentido com a alma. Se assim não o for, apenas lerás palavras e nada mais.
Bem, por hoje esta foi a partilha. Vemo-nos em breve! 🙂
LRB
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